segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Represália

A vingança é o sentimento mais humano que existe. Está presente em toda a nossa vida, à todo momento. Tanto nos momentos mais singelos, como na hora em que alguém lhe trata com má educação, quanto nos mais cruéis e significativos, quando alguém ameaça alguém que tu amas. Todos, absolutamente, sem exceções, estão sujeitos ao estigma da vingança. Talvez pessoas espiritualmente superiores já estejam mais desprendidas desse mal, mas com certeza a grande maioria ainda padece com o sentimento mesquinho. Mas o que leva o ser humano a infringir algo mesmo em alguém que ama? Pela mais pura bobagem? Na verdade, é a preservação, tanto de si mesmo, quanto do sentimento em jogo (amor, dignidade, honra etc).
Se você infringe alguém que ama, é porquê está numa tentativa desesperada de causar dano até certo ponto que você espera que a pessoa perceba que aquele ato realizado pela pessoa que sofre a vingança, que a antecedeu, não é algo válido de se acontecer. O mesmo vale na vingança pela honra. A pessoa que age impulsionada pela emoção de algo ruim que lhe aconteça ou à sua família ou por quem tem grande consideração, age pela sua preservação, pela tentativa de fazer com que o próximo perceba que àquela atitude tomada não é algo válido, aceito pelo "código de honra" que cada particular possui. Essas divagações nos fazem crer que somos apenas animais evoluídos, movidos por sentimentos primitivos que acabam mascarados no mundo moderno atual.

O próprio Código Penal brasileiro considera uma atenuante de diversos crimes a pessoa "que age impelida por forte emoção após injusta provocação". ou seja, aquele que age por vingança, depois de provocação à qual foi submetida e que pelo seu juízo de valores mundanos não é aprovado por seu discernimento.

Cheguemos então à conclusão que o mais mesquinho e primitivo dos sentimentos remete apenas à outro sentimento primitivo, à nossa natureza fraterna e preservativa da espécie ou, no caso do mundo moderno, de nossos entes queridos, por quem temos grande afeto e consideração. Em outras palavras, daqueles que amamos.

Dedicado à Carime Miranda Abdon, com muito amor.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Aspectos

É muito engraçada aquela máxima pregada no Brasil e apimentada pelas esquerdas tropicais de que a culpa da existência de ampla desigualdade no país é sempre das elite (sic). Pois bem, faz tudo parte de uma mentalidade cultural coletiva que é resumida em uma frase: trabalhar é feio.

Neste país, quem estuda e trabalha, e assim consegue um lugar a ostentar na carreira profissional, é sempre malvisto e colocado como culpado de existir desigualdade. Isso provém muito também do ponto de vista implantado nas mentes da massa brasileira de que a culpa de existir desigualdade pobre/rico e branco/negro é de "quem tem dinheiro".

Culpam até a "elite branca", talvez uma referência chula e mal colocada a "W.A.S.P.", a elite branca dos Estados Unidos, que é a sigla para "White Anglo-Saxon and Protestant". Nos EUA, há um problema de discriminação racial imenso, o que talvez justifique essa sigla inventada pelos brancos da elite norte-americana do século XX, e que tinha por objetivo a discriminação até da imigração irlandesa e italiana, além dos negros, nos EUA.

Como tudo vira sacanagem no país da sacanagem, esse termo foi "furtado" por algum revolucionário espertalhão para designar de forma chocante e pesada as "elites dominadoras do país". Essas elites brancas nada mais são do que descendentes da imigração européia que ocorreu no Brasil nos séculos XIX e XX. Portugueses, espanhóis, italianos e alemães, principalmente, foram os que chegaram ao país, com o objetivo de buscar uma melhor condição de vida.

O espertalhão aí citado, não se lembrou que todos os imigrantes vieram com o objetivo de colonizar o país, trazidos pelo governo brasileiro para este fim. Depois, todos eram parte de uma classe esquecida em seu país de origem. Muitos eram ignorantes e com pouca instrução, mas todos sabiam um ofício e tinham uma mentalidade diferente da apregoada nas terras brasilianas. Todos vieram com o único intuito de trabalhar, trabalhar, e trabalhar mais, bem diferente do brasileiro médio, já estabelecido por aqui.

Dessa maneira, os mulatos, negros, mamelucos, e brancos brasileiros, que aqui já estavam, acabaram por ficar em segundo plano, em um âmbito geral, enquanto que os imigrantes prosperavam, criando o panorama atual das "elites brancas" brasileiras.

Em outros países mais desenvolvidos, a produção acadêmica e tecnológica é fomentada com incentivos que começam desde a escola, com premiações e gratificações para os alunos mais esforçados. No nosso quase desenvolvido estado brasilis, quem estuda mais na escola é visto como "CDF", um apelido pejorativo que visa uma espécie de segregação social escolar, segregando os alunos mais esforçados dos demais, como se estes não fossem dignos de possuir vida socialmente ativa no ambiente escolar. Digo isso, pois vi, nos anos 90, enquanto estudante de ensino fundamental, como se passa este processo.

Dessa maneira, o indivíduo cresce com a mentalidade de que, para ser bom visto, tem que se esperto. Ou seja, pra tudo se dá um jeitinho, aquele mesmo pregado como característica sócio-cultural brasileira e "cool" por excelência. Aí que reside talvez o pior mal do brasileiro: é bom quem é esperto.

Neste país, quem é inteligente, estudioso ou bem sucedido, é mal visto. É factível colocar isso como parte de uma gigantesca mentalidade coletiva que abrange um histórico que remete aos tempos da Colonização e que tem efeitos e raízes nos mais diversos e inimagináveis fatores que contribuíram para a criação do estado brasileiro.

No Brasil, não se premia esforços, não se incentiva produção acadêmica nem a pesquisa de campo, não há incentivo a produção tecnológica, não é válido estudar, não é bonito ser bem sucedido. Dá pra colocar até como o "país dos excêntricos".

O Brasil talvez seja também um dos únicos países do mundo onde é bonito ser pobre. Onde um presidente da república, líder do poder executivo, tem orgulho em dizer que não tem estudo. Onde pobre tem orgulho de ser pobre e não lutar para mudar isso.

E quer saber, eu sou brasileiro e já desisti.